Vinte e cinco anos depois do lançamento de Mama’s Gun, Erykah Badu prepara-se para revisitar um dos discos mais marcantes da neo-soul com a digressão “Mama’s Gun ’25: The Return of Automatic Slim Tour”. O arranque está marcado para 3 de outubro no histórico Hollywood Bowl, em Los Angeles, e contará com a presença do rapper Westside Gunn como convidado especial.
O álbum, editado em 2000, é hoje considerado um marco da soul contemporânea, com temas como Didn’t Cha Know?, Bag Lady ou Orange Moon, que continuam a influenciar gerações. Nesta nova tour, Erykah promete reimaginar estas canções com novos arranjos e uma abordagem mais livre, fiel ao espírito performativo que a caracteriza.
Antes desta digressão especial, Badu tem já agendadas atuações com The Alchemist, apresentando o novo projeto colaborativo Abi & Alan, e o single Next To You, lançado no início do verão. Nas redes sociais, o entusiasmo é visível. No Instagram, a artista partilhou um teaser da tour com a legenda “Mama’s Gun 25: LIVE! THE RETURN OF AUTOMATIC SLIM Tour…”, recebendo milhares de comentários de fãs rendidos à ideia de a ver regressar aos palcos com este repertório clássico.
A digressão está, para já, centrada nos EUA, com 16 datas confirmadas entre outubro e dezembro, em palcos como o Kings Theatre em Brooklyn, o Fox Theatre em Detroit, o 713 Music Hall em Houston ou o MGM Music Hall em Boston.
Mama’s Gun, o album
Editado a 21 de novembro de 2000, é o segundo disco de estúdio de Erykah Badu. Gravado no célebre Electric Lady Studios, em Nova Iorque, o álbum nasce do mesmo universo criativo que viria a ser apelidado de Soulquarians, um colectivo de artistas que incluía nomes como Questlove, J Dilla, D’Angelo e Common.
Mais introspectivo e pessoal do que o disco de estreia (Baduizm, de 1997), Mama’s Gun combina soul, jazz, funk e hip hop com uma escrita crua e confessional. Canções como "Didn’t Cha Know?", "Bag Lady", "Cleva" ou "Green Eyes" abordam temas como o amor, a identidade, a maternidade e a dor emocional com uma maturidade emocional desarmante.
Apesar de um sucesso mais discreto do que o primeiro disco, Mama’s Gun foi amplamente elogiado pela crítica e conquistou um estatuto de culto, é hoje visto como uma das obras-primas do neo-soul e um reflexo do auge criativo daquela geração de músicos.
Erykah Badu em 2000
Em 2000, Erykah Badu era já figura central do movimento neo-soul, três anos depois de ter surpreendido o mundo com o seu álbum de estreia, Baduizm, que lhe valeu um Grammy e a comparação imediata a Billie Holiday pela voz distinta e presença magnética.
Nessa altura, era vista como uma artista que trazia espiritualidade, consciência social e uma estética afrocentrada ao R&B contemporâneo. Vivia um momento pessoal e artístico intenso: tinha sido mãe recentemente, e tinha uma relação com o rapper André 3000, dos Outkast, e mergulhava numa fase de escrita mais introspectiva, marcada por dúvidas, descobertas e amadurecimento emocional.
Tudo isso se refletiu em Mama’s Gun, um disco mais cru e confessional, onde explorava fragilidades e questões identitárias com coragem rara na música popular da época.
Em estúdio, Badu estava rodeada por uma comunidade criativa singular: o coletivo Soulquarians, que incluía nomes como Questlove, D’Angelo, J Dilla, Common e James Poyser. Juntos criaram uma série de álbuns influentes que definiriam o som daquela viragem de século.
Artisticamente, 2000 foi um ano de afirmação para Badu, menos centrado no sucesso comercial imediato e mais numa visão artística de longo fôlego, onde começava a consolidar o seu estatuto de musa, curadora e arquiteta sonora de uma nova soul music.