No dia 3 de Junho de 1985, Bryan Ferry lançava Boys And Girls, o seu sexto álbum a solo e o primeiro após o fim dos Roxy Music. Com este disco, Bryan Ferry não só consolidava a sua identidade artística como levava a sua visão estética a um novo patamar — onde o romantismo melancólico, o luxo e o mistério se fundem numa produção refinada e intemporal.
Boys And Girls é um marco dos anos 80, mas escapa às tendências passageiras. Trata-se de um álbum onde cada detalhe é minuciosamente esculpido: das guitarras atmosféricas de David Gilmour e Mark Knopfler à elegância rítmica de Nile Rodgers, passando por uma secção de sopros sumptuosa e arranjos envolventes que parecem suspensos no tempo.
Ao longo de nove faixas, Ferry transporta o ouvinte para um universo cinematográfico, nocturno e sedutor. “Slave to Love” tornou-se o seu maior êxito a solo — um hino à paixão com um groove suave e voz lânguida, que ainda hoje ecoa em filmes, séries e memórias de noites quentes. “Don’t Stop the Dance”, com a sua sensualidade contida e batida hipnótica, é outro momento alto, tanto musical como visual, com um dos vídeos mais marcantes da década.
Mas Boys And Girls é muito mais do que os seus singles. É uma peça coesa, onde cada canção parece fazer parte de uma mesma narrativa de desejo e desilusão, embalada por sons que misturam soul, art-rock, pop orquestral e electrónica subtil. Um verdadeiro exercício de estilo — no melhor sentido — onde o conteúdo nunca fica atrás da forma.
O álbum foi aclamado pela crítica e um enorme sucesso comercial, atingindo o nº1 do top de vendas no Reino Unido e garantindo a Ferry o maior êxito da sua carreira a solo. Mas mais do que isso, marcou uma era e influenciou gerações futuras de músicos que procuraram aliar sofisticação e emoção.
Quarenta anos depois, Boys And Girls continua a soar contemporâneo. É um disco que se ouve de noite, com luz baixa e um copo na mão. Um retrato sonoro de uma certa ideia de decadência elegante, de glamour melancólico e do poder da contenção.
Bryan Ferry, o eterno dândi do pop moderno, assinava aqui uma obra-prima que resiste ao tempo — como um perfume raro que nunca perde o seu encanto.
6 curiosidades Boys And Girls
• Gravações em locais inusitados:
Partes do álbum foram gravadas numa sala à prova de som na casa de Bette Midler, em Nova Iorque. Midler construiu o espaço para lidar com insónias, e Ferry aproveitou a acústica única para algumas sessões de gravação.
• Processo de gravação extenso:
O álbum levou cerca de 18 meses para ser concluído, com gravações realizadas em sete estúdios diferentes, incluindo locais em Londres, Nova Iorque e nas Bahamas. Bryan Ferry começou as gravações em julho de 1983, logo após o fim dos Roxy Music.
• Colaborações de peso:
Boys And Girls contou com a participação de músicos renomados, como David Gilmour (Pink Floyd), Mark Knopfler (Dire Straits), Nile Rodgers (Chic) e David Sanborn. Essas colaborações contribuíram para a sonoridade rica e sofisticada do álbum.
• Desafios na mixagem:
A faixa "Slave to Love" passou por inúmeras mixagens antes de atingir a versão final. O engenheiro de som Bob Clearmountain trabalhou em diversas versões até que Bryan Ferry e a equipa ficassem satisfeitos com o resultado.
• Estreia ao vivo atribulada:
A primeira apresentação ao vivo de "Slave to Love" ocorreu no concerto Live Aid, em julho de 1985. Durante a performance, enfrentaram problemas técnicos, como falhas no microfone e instrumentos desafinados, mas a canção ainda assim se destacou.
• Influência duradoura:
O álbum foi remasterizado e relançado em 2000, e também recebeu uma edição em formato SACD em 2005. Em 2006, foi lançada uma versão com remixagem em som surround 5.1, realizada pela equipa original de produção.
Boys And Girls permanece como um testemunho da dedicação de Bryan Ferry à arte musical, combinando elegância, inovação e uma atenção meticulosa aos detalhes.
A capa de Boys And Girls, é uma das mais icónicas da carreira de Bryan Ferry e carrega consigo uma forte carga simbólica e estética, representação visual do universo elegante e melancólico do álbum:
• Fotografia inspirada no glamour clássico
A capa foi fotografada por Fabrizio Ferri, fotógrafo italiano conhecido pelo seu trabalho de moda sofisticado e cinematográfico. A imagem mostra Bryan Ferry numa pose íntima e dramática com a modelo Laurent Gold, num cenário que evoca o romantismo decadente do cinema noir e da pintura clássica europeia.
O próprio Bryan Ferry disse que queria algo "teatral e estilizado", como se fosse "uma cena de um filme que nunca foi feito".
• Continuação da estética dos Roxy Music
A capa dá continuidade ao estilo visual que Bryan Ferry já tinha explorado nos álbuns dos Roxy Music, como Avalon e Flesh + Blood: modelos glamorosas, poses cuidadosamente coreografadas e uma atmosfera de luxo e mistério. É uma extensão visual do universo sonoro de Boys & Girls — sensual, elegante, melancólico.
• Evocação de temas do álbum
A imagem sugere um certo tipo de relação entre o poder e o desejo, o controle e a rendição — temas que atravessam o álbum, especialmente em canções como “Slave to Love” ou “Don’t Stop the Dance”. A pose submissa da modelo e o olhar distante de Bryan Ferry remetem a uma narrativa ambígua, como se estivéssemos a assistir ao fim de uma história de amor.
• Comparações com grandes mestres da pintura
Críticos e fãs já associaram a composição da capa a obras de pintores como Caravaggio ou Ingres, pela iluminação dramática e pelo tratamento escultural das figuras humanas. A fotografia parece suspensa no tempo, como um quadro vivo.
• Capa sem texto
Outra decisão estética arrojada: a versão original da capa do álbum não incluía o nome do artista nem o título do disco. Apenas a imagem falava por si, sublinhando a confiança de Bryan Ferry na força visual e conceptual do projeto. Esta tendência foi seguida por outros artistas nos anos 80, como forma de reforçar a identidade visual de cada lançamento.
A capa de Boys & Girls é mais do que uma imagem bonita — é uma extensão do som, do estilo e da atitude de Bryan Ferry. Um clássico visual à altura da sofisticação musical que o disco representa.