Morreu subitamente ontem, 16 de Junho, aos 61 anos, John Reid, cantor, DJ e compositor escocês de reputação internacional. Figura discreta fora dos palcos, mas com um legado sonoro inconfundível, Reid foi a voz dos Nightcrawlers, autores do clássico da house “Push The Feeling On”, e um dos autores mais sensíveis da pop britânica contemporânea.
Nascido em Glasgow, John Reid começou por destacar-se como vocalista de soul e gospel no circuito local. Mas foi em 1992, com a formação dos Nightcrawlers, que o seu timbre quente e distinto chegou ao grande público. O êxito “Push The Feeling On”, sobretudo na remistura de Marc Kinchen (MK), tornou-se um fenómeno global, um hino das pistas de dança que sobreviveu ao tempo, ao ponto de voltar a liderar tops duas décadas depois, através de samples em temas de artistas como Pitbull ou Riton & Nightcrawlers.
Para lá da fama como intérprete, John Reid construiu uma carreira brilhante como autor e compositor, escrevendo canções para alguns dos maiores nomes da pop e da soul.
Assinou temas como “When the Heartache Is Over”(Tina Turner), “Unbreakable” (Westlife), “A Moment Like This”(Leona Lewis), e contribuições para Kelly Clarkson, Rod Stewart, Andrea Bocelli ou Adam Lambert. A sua escrita era marcada por uma sinceridade emocional que tocava tanto o mainstream como os ouvintes mais atentos.
Nos últimos anos, Reid continuou a produzir e a colaborar, mantendo-se artisticamente ativo. Em 2017, lançou o single “All Night Long”, um tema energético e fiel às raízes da house vocal que o celebrizou. Já em 2023, voltou a surpreender com “I.O.U.”, uma faixa mais sofisticada, soul e introspectiva, com groove elegante e produção cuidada — uma afirmação da sua maturidade artística e da sua vontade de continuar a evoluir. Estava envolvido em novos projectos e em colaborações com jovens produtores, conciliando experiência com uma vontade constante de criar e experimentar.
A notícia da sua morte gerou uma forte comoção no meio musical. A cantora e ex-noiva Mary Kiani (vocalista dos The Time Frequency) reagiu com profunda emoção:
"Estivemos juntos durante nove anos. Ajudou-me a escrever e a gravar as minhas primeiras canções. Viajámos, rimos, chorámos e crescemos juntos. John era um génio criativo e o amor da minha vida."
Também o cantor e treinador vocal Chris Judge, conhecido pelo seu trabalho com Susan Boyle, prestou homenagem:
“Era um cantor escocês incrível, com tanta soul. Tinha uma presença calma e doce, e um enorme coração. Nunca guardava os seus talentos só para si — estava sempre pronto a apoiar os outros.”
Nas redes sociais, multiplicaram-se as mensagens de luto de DJs, produtores e fãs de todo o mundo. Muitos sublinharam a influência de Reid tanto na house dos anos 90 como no universo da pop. O DJ e produtor MK (Marc Kinchen) partilhou apenas uma imagem com a frase “Rest easy, brother”, acompanhada por um coração partido.
John Reid era descreto, preferia deixar a sua voz — e sobretudo as suas canções — falar por si. A sua carreira, construída com solidez e elegância ao longo de três décadas, permanece como exemplo raro de longevidade artística e integridade criativa.
Deixa-nos uma obra que se move entre clubes nocturnos e baladas de estádio, entre o beat pulsante da house e a melodia sentida da soul. Uma ponte entre mundos, feita com talento e coração. A música perdeu um dos seus grandes construtores de emoções. O mundo perdeu uma alma luminosa.