
2023 Astrud Gilberto
"Não quero a vida estéril, fria, apenas por segurança. Quero a vida plena, intensa, mesmo com riscos." — Astrud Gilberto
A 5 de Junho de 2023, o mundo perdeu uma das vozes mais icónicas e delicadas da música brasileira — Astrud Gilberto, a intérprete que transformou “A Garota de Ipanema” num clássico universal.
Hoje, dois anos depois, recordamos não apenas a artista que deu rosto e voz à bossa nova para o público internacional, mas a mulher que viveu à sua maneira, entre a música, o silêncio e uma busca constante por autenticidade.
Astrud Evangelina Weinert nasceu em Salvador, filha de mãe brasileira e pai alemão. Cresceu no Rio de Janeiro e foi lá que conheceu João Gilberto, com quem se casou e teve um filho, Marcelo. Em 1963, durante as gravações do álbum Getz/Gilberto, foi convidada a cantar em inglês o tema “Garota de Ipanema” — até então apenas em português, na voz de João.
Aquela participação improvisada mudou a sua vida para sempre. A sua voz frágil, quase tímida, tornou-se irresistível aos ouvidos americanos e europeus. Em 1965, “The Girl from Ipanema” venceu o Grammy de Gravação do Ano, e Astrud foi nomeada para Artista Revelação — um feito raro para alguém sem formação musical profissional.
A sua morte, aos 83 anos, gerou uma onda de tributos emocionados. João Donato disse: “Astrud era a alma da bossa fora do Brasil. A leveza dela era inimitável.”
Já a cantora e produtora Bebel Gilberto, filha de João Gilberto, escreveu: “Ela abriu portas para todas nós. Com uma voz doce, mas firme. Uma pioneira.”
O The New York Times descreveu-a como “a voz que ensinou o mundo a sussurrar em português”, e Caetano Veloso afirmou: “Astrud representava um Brasil que seduzia sem esforço. Um Brasil quase mítico.”
Ao longo da sua carreira, Astrud gravou mais de uma dezena de álbuns e colaborou com nomes como Quincy Jones, Chet Baker e James Last. No entanto, afastou-se progressivamente dos palcos a partir dos anos 80, preferindo uma vida discreta, longe dos holofotes.
Em entrevistas raras, mostrava-se crítica do estrelato: “Não quero a vida estéril, fria, apenas por segurança. Quero a vida plena, intensa, mesmo com riscos.”
Dois anos depois da sua partida, Astrud Gilberto continua a ser ouvida em cafés de Lisboa, ruas de Paris e praias do Rio.
A sua voz permanece como um sussurro eterno, a embalar o mundo com a melodia de um tempo que parecia mais lento, mais doce, mais verdadeiro. Que nunca nos falte essa leveza.