Morreu Sly Stone, um dos grandes visionários da música do século XX. Tinha 82 anos. Cantor, compositor, produtor e líder dos míticos Sly & The Family Stone, foi uma figura tão brilhante quanto caótica — símbolo de uma era que sonhou com a mudança através da música.
Sylvester Stewart nasceu na Califórnia, em 1943, e desde cedo revelou um talento prodigioso. Cresceu entre o gospel e o rhythm & blues, mas seria nos anos 60 que viria a reinventar tudo. Fundou os Sly & The Family Stone, uma banda multirracial e mista — algo revolucionário na altura — e trouxe ao mundo um som novo: uma fusão de funk, soul, rock e psicadelismo que desafiava géneros e preconceitos.
Temas como Everyday People, Dance to the Music, Family Affair ou Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin) tornaram-se hinos da contracultura e das lutas pelos direitos civis. Com uma energia contagiante e uma visão arrojada, Sly levou as ideias de liberdade, igualdade e celebração para o palco... e para a pista de dança.
Mas o brilho artístico foi muitas vezes ensombrado pelo caos pessoal. O vício, o isolamento e os conflitos com a indústria afastaram-no dos holofotes a partir dos anos 80. Viveu anos em reclusão, com aparições esporádicas e sempre imprevisíveis. Ainda assim, o seu legado nunca desapareceu. Prince, George Clinton, D’Angelo, Erykah Badu ou André 3000 reconheceram-no como mestre.
Em 2023, lançou uma aguardada autobiografia — Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin) — onde, pela primeira vez, se abriu verdadeiramente ao mundo. Foi um último gesto de redenção e memória, vindo de quem moldou o som e o espírito de uma geração.
Sly Stone foi um génio inquieto, imprevisível, ferozmente criativo. Um daqueles raros artistas que mudam o curso da música — e nos desafiam a dançar enquanto o fazem.