Sharon Jones morreu a 18 de novembro de 2016, aos 60 anos, vítima de cancro pancreático, deixando uma marca profunda no soul contemporâneo.
Nasceu em 1956 na Geórgia, mas cresceu em Brooklyn, construiu o caminho longe dos grandes holofotes até encontrar, já depois dos 40 anos, o espaço ideal para a sua voz poderosa com os Dap-Kings e a Daptone Records.
Tornou-se rapidamente uma figura central do renascimento da soul, com discos como Naturally e 100 Days, 100 Nights, e levou para palco uma energia intensa que a crítica comparava à urgência dos clássicos do género.
Em 2013 recebeu o primeiro diagnóstico de cancro, recuperou o suficiente para regressar aos palcos e voltou a gravar antes de uma recaída em 2015, num processo acompanhado no documentário Miss Sharon Jones! da realizadora Barbara Kopple.
A notícia da sua morte gerou uma onda imediata de reações no universo musical. O comunicado da Daptone Records destacou que Sharon morreu rodeada de familiares e dos membros da banda, e apelou a doações para fundações dedicadas à investigação do cancro em vez de flores.
Artistas como Mark Ronson, St. Vincent, Chaka Khan, John Legend, Quincy Jones, Nile Rodgers e Questlove prestaram homenagem, sublinhando a força da sua voz e a importância do seu papel no revivalismo soul.
Nos testemunhos mais íntimos, Gabriel Roth, dos Dap-Kings, recordou que, mesmo nos últimos dias, Sharon continuava a cantar e a acompanhar mudanças de acordes, especialmente em temas gospel como “Amazing Grace”.
O legado continuou vivo após a sua partida, com a edição do álbum póstumo Soul of a Woman, gravado antes do agravamento da doença.

Sharon Jones: influências e canções que a marcaram
Sharon Jones cresceu entre a Geórgia e Brooklyn, rodeada por gospel, soul e funk, ambiente que moldou o timbre quente e a força de palco que a tornaram numa das vozes mais intensas da sua geração.
As raízes estavam no gospel tradicional, onde começou a cantar em criança, e onde aprendeu a controlar a voz com aquela mistura de urgência e espiritualidade que nunca abandonou. Hinos como “Amazing Grace” ou “I’ll Fly Away” foram a sua primeira escola e continuariam a acompanhá-la até aos últimos dias.
Entre as influências directas, James Brown era a referência maior. A energia física, a entrega total e o ataque vocal eram elementos que Sharon assumia como parte do seu ADN artístico.
Também Aretha Franklin e Otis Redding marcaram a sua forma de interpretar, intensidade emocional, frases curtas, directas, carregadas de verdade. De Sam Cooke herdou sensibilidade melódica e aquele equilíbrio entre espiritualidade e vida real.
O funk dos anos 70, de nomes como The Meters, Betty Davis ou Lyn Collins, ajudou a definir o lado mais rítmico e eléctrico que os Dap-Kings souberam amplificar.
Ao longo da carreira, Sharon destacou várias canções que se tornaram especiais. “100 Days, 100 Nights” acabou por ser o seu cartão de visita, uma síntese do soul clássico que defendia. “Retreat!” era uma das suas favoritas em palco, pela força imediata do arranjo e pela atitude que a libertava. “People Don’t Get What They Deserve” aproximava-a de um comentário social directo, enquanto “Better Things” mostrava um lado mais luminoso, ligado à superação. Em “I Learned the Hard Way”, Sharon via a sua própria história, um percurso feito de resistência, desilusões e determinação tardia.
Na fase final, temas como “Matter of Time” e “Call on God” ganharam um peso especial. O primeiro pela profundidade emocional; o segundo, uma gravação antiga recuperada para o álbum póstumo, pela sensação de despedida.
Já “This Land Is Your Land”, transformado por Sharon numa peça profundamente soul, lembrava a sua capacidade rara de reimaginar canções de outros com total autenticidade.
A sua vida pode ter começado longe dos grandes palcos, mas as influências e as canções que a marcaram explicam porque Sharon Jones se tornou uma das figuras essenciais do revivalismo soul. Cantava com verdade, movia-se por instinto e deixava em cada interpretação uma vida inteira de caminho, luta e brilho próprio.