
1965 James Brown grava I Got You (I Feel Good), a alma em estado puro
Foi a 6 de maio de 1965, num estúdio em Miami, que James Brown gravou um dos temas mais emblemáticos da música do século XX. Com uma energia inconfundível e um grito que ficou para a história, “I Got You (I Feel Good)” nasceu num só take, como se a urgência de Brown em pôr o corpo a mexer falasse mais alto do que qualquer tentativa de perfeição técnica.
A canção captou na perfeição o espírito de James Brown: ritmo à flor da pele, uma entrega total à música e a capacidade de transformar sentimentos em movimento. O riff de metais explosivo, a base rítmica incansável e a força da sua interpretação deram origem a um novo padrão de expressão — que antecipava já o funk, antes de este ter nome.
"I Got You" não foi apenas um sucesso comercial, foi, sobretudo, uma afirmação estética. Brown abria caminho para uma linguagem musical mais crua, mais física, mais negra — em todos os sentidos da palavra. Com esta gravação, a soul ganhava músculo, e o groove deixava de ser apenas um ritmo para passar a ser um manifesto.
O próprio James Brown afirmou numa entrevista anos mais tarde:
Era o som daquilo que eu sentia. Queria que o mundo soubesse que me sentia bem, apesar de tudo.
“I Got You (I Feel Good)” foi um hino de autoafirmação — num tempo em que ser negro na América era um acto de resistência. E continua a ser: um dos temas mais usados em filmes, campanhas e momentos de celebração colectiva. Um grito de alegria que é também, um grito de liberdade.
Neste aniversário redondo, voltamos a essa gravação feita em maio de 1965 e redescobrimos o impacto de uma música que ainda hoje nos obriga a mexer o corpo — e a sentir. Porque a alma, quando é verdadeira, não envelhece. 60 anos depois, continua a ser impossível resistir ao groove de James Brown.