Mais do que um cantor ou produtor, Raphael Saadiq é um dos grandes arquitectos da soul contemporânea. Nascido em Oakland, cresceu entre igrejas, vinis e ensaios que lhe moldaram o ouvido e o coração. Nos anos 90, brilhou com os Tony! Toni! Toné!, banda que trouxe frescura à soul com um pé no passado e outro no futuro. Músicas como Anniversary ou It Never Rains (In Southern California) tornaram-se clássicos — não só porque soavam bem, mas porque vinham de um lugar real.

Depois, vieram os Lucy Pearl, colaboração improvável com Ali Shaheed Muhammad dos A Tribe Called Quest e Dawn Robinson das En Vogue. Juntos, criaram um som cru, dançável, elegante. Ainda hoje Dance Tonight soa como se tivesse sido feita ontem.

Mas Saadiq nunca ficou preso ao passado. Como produtor, assinou alguns dos momentos mais brilhantes das últimas décadas. D’Angelo, Solange, Joss Stone, John Legend, Erykah Badu… A lista é longa, e o som tem sempre a sua marca: baixo firme, harmonias ricas, emoção à flor da pele.

Álbuns a solo como The Way I See It e Jimmy Lee mostram a sua versatilidade — tanto pode homenagear a Motown como expor, sem filtros, as feridas da família e da dependência. Saadiq faz soul porque precisa, não porque dá jeito.

Hoje, celebramos não só o artista, mas a sua entrega. A elegância com que transforma dor em beleza. O rigor com que grava cada nota como se fosse a última. Parabéns, Raphael. Obrigado por dares à música o que ela mais precisa: verdade.