Foi a 3 de julho de 1995 que D’Angelo lançou Brown Sugar, álbum estreia que viria a marcar uma viragem profunda no R&B contemporâneo. Trinta anos depois, continua a ser uma referência obrigatória, o disco que lançou as bases do movimento neo-soul e que devolveu a emoção crua e o detalhe musical à soul moderna.
Um álbum que soou diferente
Com apenas 21 anos, D’Angelo surpreendeu pela maturidade musical. Escreveu, produziu e tocou quase tudo em Brown Sugar, numa abordagem artesanal e intimista. A fusão entre soul dos anos 70, funk, jazz e hip hop era nova e distinta. Não havia filtros nem brilhos artificiais. O som era quente, analógico e direto. Como escreveu a Pitchfork, “parecia algo perdido no tempo, mas completamente novo”.
A Rolling Stone colocou Brown Sugar no lugar 183 da sua lista dos 500 melhores álbuns de sempre, destacando a forma como D’Angelo recuperou a tradição de artistas como Stevie Wonder ou Prince, com uma assinatura muito própria.
O impacto imediato
Lançado pela EMI, Brown Sugar chegou ao #22 do top norte-americano e vendeu rapidamente mais de um milhão de cópias nos EUA, conquistando o estatuto de platina em menos de um ano. Quatro singles impulsionaram esse sucesso “Brown Sugar”, “Lady”, “Cruisin’” e “Alright”, mantendo D’Angelo presente nas rádios e na MTV.
O álbum valeu-lhe quatro nomeações para os Grammy Awards, incluindo Melhor Álbum R&B e Melhor Performance Vocal Masculina. A crítica norte-americana foi praticamente unânime: o New York Times chamou-lhe “uma estreia inesperadamente sofisticada”, a BBC elogiou o afastamento da estética digital da época e o regresso à “intimidade real”.
Reações e influência
Entre músicos e fãs, o disco rapidamente ganhou estatuto de culto. Maxwell, Erykah Badu e Jill Scott reconheceram-no como influência directa. Nas palavras da USA Today, foi “o álbum que abriu caminho para uma nova geração da soul”.
A importância histórica
Brown Sugar não foi apenas uma revolução estética. Foi um reposicionamento da identidade da música negra nos anos 90, numa altura dominada por produções electrónicas e fórmulas comerciais. A sua linguagem musical, feita de espaços, silêncios, harmonias e grooves, abriu espaço para a vulnerabilidade masculina, para o romance não idealizado, para a intimidade sem filtros.
Trinta anos depois, Brown Sugar, continua a ser um marco. Um álbum que inspirou uma geração, alterou o curso do R&B e resiste ao tempo com uma dignidade rara.